segunda-feira, 5 de março de 2012

Janelas da segunda - Parte I

De dentro do meu carro, com o pé firme e resoluto no acelerador, avanço rapidamente pelo asfalto quente da paulista em direção ao escritório, e é tão óbvia a ironia do detalhe: moro no paraíso e trabalho na consolação. Mas consolar-se de quê, se o trânsito não me deixa ver a beleza verdadeira que se esconde nas arquiteturas e nas coisas de concreto, aço e vida em verde. Todos os dias perco a noção de como admirar esta cidade, e me contento apenas em observar com certa impaciência, visto que desejo chegar logo ao trabalho. O trânsito é de 'matar', em todos os sentidos. E assim, pelas janelas dos carros, dos prédios, dos olhos, a segunda-feira é apenas o primeiro dia de uma semana intranquila, veloz, e cinza na capital.
Pedestres apressados e impacientes, feito baratas descontroladas, atravessam faixas, ruas, avenidas, entre carros, motos, entre o tempo de ir e de voltar. A casa não é mais o lar, mas apenas o local de dormir. As janelas da segunda-feira me mostram aquilo que não vejo no fim de semana: a vida é um caos sobre rodas - pois não se vai a lugar nenhum em Sampa sem ele.
E se não desisto, não é porque não quero, mas porque meu espírito já esta entregue a escravidão do cotidiano.
Talvez um dia, na minha aposentadoria, que desejo faz tempo, me venha a lembrança dessas segundas loucas, e me bata a saudade de acelerar meu carro em direção à Consolação. Talvez!

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